quarta-feira, junho 13, 2007

Jornal de Sesimbra - Coluna Vertebral

A luta pela liberdade em Portugal tem muitos empenhamentos, diversos rostos e várias bandeiras. Mário Soares é a mais viva e permanente. Nascido em 1924, tem mais de seis décadas de combate político ininterrupto. Comunista por tempo escasso, no dealbar do pós guerra anti-nazi, rapidamente se tornou uma figura muito activa da oposição republicana e democrática, que englobava, no centro-direita, sectores liberais, e à esquerda, a área socialista. De secretário político de Norton de Matos, nas eleições presidenciais que deveriam ter tornado “Portugal tão livre como a livre Inglaterra”, nas palavras do sinistro e cínico ditador, a fundador da Acção Socialista Portuguesa, foram praticamente duas décadas de acesa luta política que lhe abriram espaço nos corações democráticos. Sempre torpedeado e caluniado por fascistas e estalinistas, os maiores inimigos da democracia. As quatro décadas seguintes são razoavelmente conhecidas em todo o mundo. Não cabem em vários livros, quanto mais numa coluna, ainda que vertebral.

Outros terão lutado e, nalguns casos feito enormes sacrifícios, contra o regime de Salazar e de Marcelo, mas para instaurarem outros tipos de regime ditatorial não do proletariado mas sobre o “proletariado”; a Moscovo de então desmotivou-os, o seu interesse estava mais ao sul e o Álvaro de todo um século reorientou uns estrategicamente e decretou o combate aos outros encarniçadamente. Mas a morte do “esquerdismo” não foi então conseguida e a força dos bloqueadores/bloquistas nas sondagens pré-legislativas vai-os aproximando do nível do “arquétipo”, do Partidão, como diziam alguns brasileiros. Quanto ao antigo Partidão, na fase pós-carvalhista, ganhou um tom mais popular, quiçá um timbre mais populista, com uma base que se procura ancorar solidamente, de forma especial, no distrito de Setúbal e zonas limítrofes.

Carlos Brito foi um lutador contra a ditadura e um excelente líder parlamentar do PCP. Fazia parte do pequeno círculo com quem Cunhal procurava partilhar o poder interno. Mais tarde, com grande seriedade e bastante humildade intelectual, formulou interrogações e procurou responder a dúvidas, com uma abordagem muito diferente de um outro relevante algarvio.

Fernando Rosas lutou contra o fascismo e a favor do comunismo, em diversas encarnações, desde tenra idade. De Secretário-geral da Pró-Associação dos Liceus nos anos sessenta a Director do Luta Popular nos anos setenta, toda uma evolução política foi sendo feita, até chegar à convergência bloquista. A actual fase da sua actividade política é bem conhecida.

Três visões da vida e da luta política, três perspectivas da democracia e da liberdade. Terá sido interessante organizar o seu confronto, em Sesimbra. Também de debates se faz a democracia.

Sexta-feira, 25 de Julho de 2008