1. Os resultados das eleições europeias evidenciam mudanças globais no quadro da União.
Os verdes subiram significativamente, tal como as extremas-direitas, por razões diferentes e parcialmente opostas. Os verdes apresentaram, no contexto europeu, uma certa convergência estratégica e um suave posicionamento num centro-esquerda, ambientalista e social, efectivamente liderados pelo habilidoso Daniel Cohn Bendit, o qual não perdeu ainda a verve que fez dele Dany le Rouge, no gaulês Maio de 68. Em França, aliás, os verdes subiram a terceiro partido, aproximando-se do PS e ultrapassando os liberais de Bayrou. No plano europeu, os verdes aproximaram-se numericamente dos liberais - democratas.
2. À esquerda do PS, em Portugal, houve um claro acréscimo do apoio eleitoral, tendo o peso dos partidos considerados à esquerda do PS aumentado de 3 para 5 eurodeputados. A permeabilidade entre o eleitorado do Bloco e segmentos de eleitores socialistas evidenciou-se como significativa, confirmando o que nos últimos tempos se vinha observando nalguns distritos, estratos etários e sectores sociais. Uma mensagem muito pouco ideológica facilitou a transferência para o Bloco de votos oriundos da esquerda democrática, europeísta e modernizadora. Aliás, o próprio BE traçou uma visão quase idilicamente europeísta das suas posições, com alguns aspectos críticos, assumindo-se contra Barroso e o liberalismo. A subida eleitoral do Bloco contrasta aliás com a redução de eurodeputados do seu grupo europeu, no qual coabitam com o PCP. Esse Grupo sofreu uma redução global nos outros países da União proporcionalmente superior à diminuição de deputados nos hemiciclos de Estrasburgo e Bruxelas.
3. Verificou-se assim um certo recuo do grupo unitário de Esquerdas/Esquerda Verde Nórdica, o qual elegeu apenas 33 deputados entre os quais cinco portugueses, comparados com os 38 eleitos em 2004. A influência deste grupo passará a ser ainda menor do que já era. Isto sem prejuízo da capacidade de intervenção que se espera dos novos deputados do Bloco, desta vez no próprio plano legislativo.
4. Novos desafios se apresentaram aos socialistas europeus, a partir do Congresso do Porto de 2006, no qual participaram individualidades como Howard Dean, líder do Partido Democrático norte - americano, então na sua preparação para a vitória presidencial de 2008 e José Maria Neves, primeiro-ministro de Cabo Verde. O programa e o manifesto socialista para as eleições europeias foram preparados de uma forma extremamente aberta, com sessões públicas nos diferentes Estados membros da União. Aparentemente, era quase perfeito para os objectivos traçados. Mas o PSE veio a perder dezenas de deputados face ao grupo Parlamentar que ora termina o seu mandato
5. A crise do socialismo democrático europeu tem que ser vista, tendo em conta os resultados recentes das eleições europeias. E tem de se ter em conta também que o Partido Popular Europeu, em cujo grupo se integrarão PSD e CDS, perdeu deputados, numa proporção próxima da redução do número total de lugares no novo Parlamento Europeu. E poderão perder ainda mais, com a provável cisão liderada pelos conservadores britânicos.
6. Curiosamente, a grande progressão verificou-se à direita do Partido Popular Europeu. Para além de se manter a União da Europa das Nações, no grupo Independência e Democracia a componente britânica, o Partido da Independência do Reino Unido, passou a segunda força nas eleições britânicas, relegando não só os trabalhistas mas também os liberais para posições claramente subalternas. Entretanto, cresceu significativamente o número de deputados extremistas de direita no Parlamento Europeu.
7. Os efeitos políticos na Europa da União vão ser relevantes já no futuro próximo. O Parlamento Europeu, globalmente está mais à direita, com as inerentes consequências no plano das deliberações políticas, das resoluções sociais, das medidas para debelar a crise e para criar uma regulação financeira eficaz.
(Artigo de Joel Hasse Ferreira, publicado no Diário Económico em 16 de Junho de 2009)
Os verdes subiram significativamente, tal como as extremas-direitas, por razões diferentes e parcialmente opostas. Os verdes apresentaram, no contexto europeu, uma certa convergência estratégica e um suave posicionamento num centro-esquerda, ambientalista e social, efectivamente liderados pelo habilidoso Daniel Cohn Bendit, o qual não perdeu ainda a verve que fez dele Dany le Rouge, no gaulês Maio de 68. Em França, aliás, os verdes subiram a terceiro partido, aproximando-se do PS e ultrapassando os liberais de Bayrou. No plano europeu, os verdes aproximaram-se numericamente dos liberais - democratas.
2. À esquerda do PS, em Portugal, houve um claro acréscimo do apoio eleitoral, tendo o peso dos partidos considerados à esquerda do PS aumentado de 3 para 5 eurodeputados. A permeabilidade entre o eleitorado do Bloco e segmentos de eleitores socialistas evidenciou-se como significativa, confirmando o que nos últimos tempos se vinha observando nalguns distritos, estratos etários e sectores sociais. Uma mensagem muito pouco ideológica facilitou a transferência para o Bloco de votos oriundos da esquerda democrática, europeísta e modernizadora. Aliás, o próprio BE traçou uma visão quase idilicamente europeísta das suas posições, com alguns aspectos críticos, assumindo-se contra Barroso e o liberalismo. A subida eleitoral do Bloco contrasta aliás com a redução de eurodeputados do seu grupo europeu, no qual coabitam com o PCP. Esse Grupo sofreu uma redução global nos outros países da União proporcionalmente superior à diminuição de deputados nos hemiciclos de Estrasburgo e Bruxelas.
3. Verificou-se assim um certo recuo do grupo unitário de Esquerdas/Esquerda Verde Nórdica, o qual elegeu apenas 33 deputados entre os quais cinco portugueses, comparados com os 38 eleitos em 2004. A influência deste grupo passará a ser ainda menor do que já era. Isto sem prejuízo da capacidade de intervenção que se espera dos novos deputados do Bloco, desta vez no próprio plano legislativo.
4. Novos desafios se apresentaram aos socialistas europeus, a partir do Congresso do Porto de 2006, no qual participaram individualidades como Howard Dean, líder do Partido Democrático norte - americano, então na sua preparação para a vitória presidencial de 2008 e José Maria Neves, primeiro-ministro de Cabo Verde. O programa e o manifesto socialista para as eleições europeias foram preparados de uma forma extremamente aberta, com sessões públicas nos diferentes Estados membros da União. Aparentemente, era quase perfeito para os objectivos traçados. Mas o PSE veio a perder dezenas de deputados face ao grupo Parlamentar que ora termina o seu mandato
5. A crise do socialismo democrático europeu tem que ser vista, tendo em conta os resultados recentes das eleições europeias. E tem de se ter em conta também que o Partido Popular Europeu, em cujo grupo se integrarão PSD e CDS, perdeu deputados, numa proporção próxima da redução do número total de lugares no novo Parlamento Europeu. E poderão perder ainda mais, com a provável cisão liderada pelos conservadores britânicos.
6. Curiosamente, a grande progressão verificou-se à direita do Partido Popular Europeu. Para além de se manter a União da Europa das Nações, no grupo Independência e Democracia a componente britânica, o Partido da Independência do Reino Unido, passou a segunda força nas eleições britânicas, relegando não só os trabalhistas mas também os liberais para posições claramente subalternas. Entretanto, cresceu significativamente o número de deputados extremistas de direita no Parlamento Europeu.
7. Os efeitos políticos na Europa da União vão ser relevantes já no futuro próximo. O Parlamento Europeu, globalmente está mais à direita, com as inerentes consequências no plano das deliberações políticas, das resoluções sociais, das medidas para debelar a crise e para criar uma regulação financeira eficaz.
(Artigo de Joel Hasse Ferreira, publicado no Diário Económico em 16 de Junho de 2009)